quarta-feira, 13 de abril de 2016

Parábola do Mordomo Infiel - Joseph Shulam


 A parábola em questão é um tanto difícil de ser compreendida por tratar de assuntos desconfortáveis para a maioria das pessoas da civilização ocidental. Trata-se da parábola do Mordomo infiel, ou injusto, pois parece que o que o tal mordomo fez realmente não foi justo. No entanto é necessário entender essa parábola dentro da condição política, sociológica e espiritual dos judeus na terra de Israel, no tempo de Jesus.

Essa parábola é diferente, pois ela não começa da mesma forma que muitas outras parábolas de Jesus que começam com a seguinte frase:

“O reino dos céus é como...” ou “O reino de Deus é semelhante a...”

Vamos à leitura da parábola (Lucas 16:1)

“E dizia também aos seus discípulos: Havia certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens. E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo. E o mordomo disse consigo: Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar, não posso; de mendigar, tenho vergonha.
Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas.
E, chamando a si cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor?
E ele respondeu: Cem medidas de azeite. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve cinqüenta. Disse depois a outro: E tu, quanto deves? E ele respondeu: Cem alqueires de trigo. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e escreve oitenta. E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz.
E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos. Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?”

Primeiramente, como não há a abertura clássica que se faz para falar sobre o Reino de Deus, entende-se que obviamente ele não está falando agora sobre o Reino de Deus.

 Observa-se que o contexto é retirado da história de José, pois ele foi chamado de mordomo. A palavra grega para mordomo é “Oikomenon”. Desta palavra se tira a palavra economia. Então o mordomo é aquele que lida com a economia da casa, ou seja, é o escriturário ou contador que administra os bens do Senhor daquela casa. Portanto, o mordomo nesta parábola tem o mesmo trabalho designado a José na casa de Potifar e também, anos mais tarde, o trabalho de administrador de toda a riqueza do Egito. E isso é relevante, pois o que José fez? Ele administrou a riqueza do perverso, no caso, dos egípcios idólatras, de Faraó e seu domínio, para poder alimentar seus irmãos e irmãs.

 Providencialmente, aqueles que o odiaram, falaram mal dele e venderam-no acabaram vindo a ele para receber comida e não passar fome em Canaã no período da seca. Então José é aquele mordomo que está sobre o dinheiro do perverso, do injusto. E ele deve administrar esse dinheiro para abençoar Israel, providenciando-lhe uma moradia. Então este mordomo da parábola tem muito a ver com José, por essas razões. Além disso, qual é a situação política na época que essa parábola foi contada? A situação era a da ocupação romana, com a casa de Herodes administrando os interesses dos romanos. Os habitantes de Israel, por sua vez, estavam sob o jugo dos cobradores de imposto e sob pressão política dos romanos.

 E nesse contexto, Roma não estava preocupada com a casa de Herodes ou com Israel, mas apenas interessada com o que eles poderiam fazer que fosse do interesse de Roma (ou seja, fornecer dinheiro). Comparando com a parábola, vemos que o homem rico não está preocupado em descobrir se a acusação de que o mordomo estava dissipando seus bens era ou não verdadeira. Baseado na acusação ele já se dispôs a demitir o mordomo. Ou seja, o homem, assim como os romanos, não está preocupado com o mordomo; e este já se preocupa com o que irá fazer, pois não é capaz de cavar ou mendigar. Então ele tem que se preparar, neste mundo, para tirar proveito da riqueza do perverso, a fim de herdar uma casa, um lugar que tenha um valor eterno.

 E isto fica evidente na parábola, pois ele usa a riqueza dos maus para fazer amigos dentro do chamado dele assegurando sua moradia eterna. O fim da parábola é muito importante. Jesus diz aos seus discípulos que eles devem usar o dinheiro dos maus para fazer o bem para as pessoas deste mundo, que são na verdade devedores. Dentro daquele contexto, devedores de Roma e agora devedores de Deus e de todo mundo neste mundo. Então qualquer riqueza que alguém tiver que provenha deste mundo, que provém dos perversos deve ser aplicada para dar como retorno riquezas eternas e reais. E vemos, da passagem muitas vezes citada de Provérbios 13:22, o que realmente Jesus está ensinando nesta parábola:

O homem de bem deixa uma herança aos filhos de seus filhos; a riqueza do pecador, porém é reservada ao justo.

2 comentários:

  1. Vc mudou totalmente a parábola!
    Transformou o mordomo infiel em fiel e o senhor dele em um homem mal. Deturpou tudo!

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  2. Não deturpei a parábola! Isto é uma revelação; é um entendimento que podemos tirar dela.

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