segunda-feira, 9 de maio de 2016

Um Antídoto para o Desespero - Chana Weisberg


Quando você se sente envolvido num poço fundo e escuro de desespero, quando seu coração se sente partido em mil pedaços, quando você simplesmente não consegue mais lutar contra os dolorosos desafios nem mais um só momento.Você simplesmente poderia não ter de fazê-lo. Seu momento seguinte pode ser totalmente diferente do seu momento atual.

 O filósofo Kierkgaard, que semeou as raízes da psicologia existencial, escreveu de maneira eloquente: “Um ser, a todo instante em que existe, está no processo de tornar-se, pois o ser… é somente aquilo que vai se tornar.”. E apesar disso, a fonte de grande parte de nosso sofrimento é que vemos nossas vidas de maneira limitada, como uma foto instantânea, acreditando que aquilo que temos agora representa como fomos e como seremos.

 Porém tudo em nosso mundo continua num estado de fluxo. A cada momento há uma enorme mudança. A mudança pode ocorrer tão levemente que chega a ser imperceptível aos nossos olhos e mente, mas está ocorrendo. A mudança é incessante. Um vaso ou um móvel muda a todo momento, mesmo que pareça permanente.

 Perde a cor e se torna antigo, não de repente, mas momento a momento. Isso é verdadeiro sobre objetos inanimados, e se aplica ainda mais à dinâmica física, psicológica e espiritual. A célula típica de nosso corpo morre após 100 dias ou algo equivalente, a cada segundo, 2.5 milhões de células sanguíneas nascem, e no mesmo segundo morre uma quantidade correspondente.

 Este ciclo de nascimento e morte ocorre constantemente. Nas palavras de Rollo May: “A personalidade pode ser entendida somente como a vemos numa trajetória rumo ao seu futuro; um homem pode entender a si mesmo somente à medida que se projeta para a frente. Este é o corolário do fato de que a pessoa está sempre se tornando, sempre emergindo, no futuro. O ser deve ser visto em sua potencialidade.” 

Alguns desafios não vêm e vão, mas continuam a nos afligir durante toda a nossa vida. Porém, mesmo então, um novo conjunto de circunstâncias está constantemente sendo concebido e formado, criando o processo de mudança.

 William James escreve: “A grama do lado de fora da janela agora me parece do mesmo verde quando está ao sol ou na sombra, e mesmo assim um pintor teria de pintar uma parte em marrom escuro, outra em amarelo brilhante para dar seu verdadeiro efeito sensacional. Não consideramos, como uma regra, a maneira pela qual as mesmas coisas se parecem e soam e cheiram a distâncias diferentes e sob diferentes circunstâncias. “O mesmo objeto não pode facilmente nos dar a mesma sensação outra vez… Cada pensamento que temos sobre um determinado fato é, estritamente falando, único e somente tem uma semelhança pequena com nossos outros pensamentos sobre o mesmo fato. Quando o fato idêntico se repete, devemos pensar sobre ele de maneira nova, vê-lo sob um ângulo um tanto diferente, e apreendê-lo em relações diferentes daquelas nas quais apareceu da última vez.”

 Em uma das narrativas mais comoventes de esperança emergindo de dentro daquela escuridão avassaladora, a Bíblia registra a primeira troca de palavras entre Deus e Moisés. O povo judeu tinha passado pela mais severa degradação sob a tirania dos seus opressores egípcios.

 Deus ordena a Moisés que revele que Ele irá libertá-los do cativeiro. Moisés responde perguntando o que deveria dizer em nome de Deus. Moisés estava pedindo uma mensagem de consolo e esperança para levar a um povo alquebrado cujo Deus aparentemente os tinha abandonado durante as últimas décadas, deixando de ouvir seus gemidos angustiados.

 Deus responde de maneira elusiva. Moisés deveria transmitir aos escravos judeus que o nome de Deus é “Eu serei aquele que serei.” Por algum tempo, a escravidão se tornou pior depois da mensagem de esperança de Moisés. Embora as sementes da redenção estivessem semeadas, sob a perspectiva do povo, nada tinha mudado.

 E mesmo assim, a situação estava mudando dramaticamente. Talvez a mensagem de Deus ao povo extraviado seja a mensagem de Deus para nós, em nossos momentos de angústia, que podemos conectar a Divindade com “Eu serei aquele que serei” – o poder de ser.

 Somente quando somos capazes de perceber que ser é inseparável de tornar-se, podemos nos libertar das amarras da servidão às nossas ansiedades e hábitos que nos derrotam. O presente é apenas aquilo que trouxemos de nosso passado, e aquilo que usaremos para forjar nossos futuros imediatos.

 Trazer esta verdade à nossa consciência pode nos ajudar a encontrar consolo à medida que encontramos as provações no tempo presente de nossa vida. Portanto, quando as trevas parecem avassaladoras, quando a monotonia entediante está levando você ao limite da insanidade, encontre conforto na percepção de que nada em nosso mundo permanece estático.

 Não os nossos desafios atuais. Não quem nós somos. Você, sua vida e as circunstâncias são uma parte integrante do labirinto do plano cósmico de Deus, emergindo de novo a todo instante. Não existe o estático “ser”. Há somente aquilo que fomos – e mais importante, aquilo que escolhemos nos tornar.

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