terça-feira, 24 de maio de 2016

O Cachorro e a Lebre

 "Havia num certo lugar caçadores, que dispunham de cães de caça para caçar lebres. Num certo dia, uma lebre passa correndo por entre os arbustos, e um dos cães avistando-a, sai em disparada atrás da lebre. No que ele sai correndo, ele começa a latir para que os outros cães pudessem segui-lo ao encontro da lebre.

 Os caçadores ao ouvirem os latidos, saíram correndo atrás dos cães para acompanhá-los na caçada. No meio do percurso, os caçadores começaram a observar que os cães foram desistindo um por um, porém perceberam que o primeiro cachorro continuava, com seus latidos bem distantes, perseguindo e correndo atrás da lebre."

 Esta história nos traz a seguinte objeção. Porque o primeiro cachorro continuou atrás da lebre e os outros desistiram? Porque o primeiro cachorro estava vendo a lebre, já os outros sabiam que a lebre existia, porém baseados no avisos do primeiro cachorro. 

 Isto retrata a nossa caminhada e vida cristã, desde o início até o fim. Todos aqueles que desistiram no meio do caminho em quererem parar de buscar a Deus, ou seja, "perseguir a lebre". São aqueles que estavam apenas ouvindo os "latidos de outros", se baseavam em Deus apenas no que outras pessoas falavam sobre Ele, porém elas mesmas nunca O viram.

 Esses certamente desistem de buscar a Deus. Esta história nos mostra que precisamos ter um visão de Deus, precisamos contemplá-Lo, isto é o que nos fortalecerá para continuarmos O buscando.

O Que é Fé? - Tzvi Freeman


O que é
 Estamos acostumados a pensar na fé como uma estratégia para pessoas que não podem pensar por si mesmas. “O tolo acredita em tudo”, escreve Salomão, “o homem sábio entende.”

 Fé, porém, é uma convicção inata, uma percepção da verdade que transcende, e não foge, à razão. Bem ao contrário, sabedoria, compreensão e conhecimento podem ampliar a verdadeira fé.

 Mesmo assim, a fé não é baseada na razão. A razão nunca pode atingir a certeza da fé, pois, razoavelmente falando, um raciocínio maior poderia sempre vir junto e provar que suas razões estão erradas.

 Dessa maneira, a fé é semelhante a ver em primeira mão: a razão pode ajudar você a entender melhor aquilo que vê, mas eu terei dificuldade para convencê-lo que você nunca viu aquilo. Portanto também, a fé perdura mesmo quando a razão não pode alcançar.
Como testá-la
 Falando praticamente, uma pessoa pode ter fé porque não está interessada ou é incapaz de raciocinar por si mesma. Portanto, sua fé não pertence a ela: está simplesmente confiando em outros. Quando alguém tem uma profunda fé em qualquer verdade, sente que essa verdade é parte de sua própria essência e seu ser.

 O teste de tornassol seria um caso de martírio. Uma pessoa com fé sub-racional pode ou não decidir dar a própria vida por esta fé. Uma pessoa com fé supra-racional não vê escolha – negar sua fé é negar a quintessência de seu ser.
Como chegar lá
 Como dissemos, a fé é inata, porém pode ser aumentada através de estudo, experiência e razão. Sem este alimento, a fé de uma pessoa pode permanecer divorciada de sua atitude e ações. Um ladrão também acredita em Deus: quando está para fazer uma entrada forçada, a ponto de arriscar sua vida - e a vida de sua vítima – ele grita com toda a sinceridade: “Deus me ajude!”

 O ladrão tem fé que há um Deus que ouve seus gritos, porém não entende que Deus pode ser capaz de prover para ele sem exigir que descumpra a vontade de Deus ao roubar dos outros. Para a fé afetá-lo dessa maneira ele precisa de estudo e contemplação.

 Porém a maior vitamina que você pode proporcionar à fé é o simples exercício. De fato, um artesão é alguém exímio naquilo que faz – porque praticou sua arte repetidamente até se tornar natural para ele.

 Assim também, a fé fica mais alta e mais profunda à medida que você se acostuma a ver todos os fenômenos da vida como manifestações da presença e glória do Criador. E ainda mais, a fé é enriquecida por ser testada e passar pelos testes; e por fazer sacrifícios na vida em prol da sua fé.

Vamos Deixar Claro


Você pode comprar um livro, mas não o conhecimento.
Você pode comprar uma posição social, mas não compra o respeito dos outros.
Você pode subornar e comprar pessoas, mas não consegue fazê-las amigas.
Você compra facilmente um relógio, mas não o tempo.
Você compra e constrói uma casa, mas depende de muito esforço até que seja um lar.
Você compra o colchão mais caro, mas não o sono tranquilo.
Você compra comida em qualquer lugar, mas o verdadeiro apetite depende de muitos fatores.
Você compra os melhores remédios que a medicina oferece, mas só Deus retornará sua saúde.
Você consegue uma transfusão de sangue, mas não a vida.
Você consegue comprar algumas coisas na vida, mas a vida mesmo quem tem para te dar é somente Deus.

Frase - C. S. Lewis (1898 - 1963)


sábado, 14 de maio de 2016

Cristo no Antigo Testamento - Encontro de Jacó e Esaú

 Em Gênesis 32, Jacó envia presentes a Esaú, antes que este viesse ao seu encontro. Pois Jacó sabia que seu irmão certamente estaria buscando vingança, pelo fato de Jacó o ter enganado.

 Cristo é o nosso presente enviado a Deus, pois sabemos que Ele um dia voltará para a terra em busca de vingança e juízo pelas nossas afrontas a Sua santidade.

 Porém esta ira foi aplacada em Cristo e seu furor desviado. Por meio de Cristo podemos, como Jacó, nos achegar a presença de Deus e nos prostramos e Ele nos aceitará na Sua presença.

Frase - C. S. Lewis (1898 - 1963)


Até um ateu vê e diz que é grotesco! - Josemar Bessa


Salmo 14: 1 -  Diz o néscio no seu coração: "Deus não existe". 

 Mas ainda mais insensato é acreditar em um Deus que você constrói de acordo com os seus próprios gostos e preferências. Como é comum ouvir pessoas que se dizem cristãs falarem: “Eu penso que Deus não pode... eu não posso conceber um Deus que... o Deus que eu creio tem que ser...”

 Aqui está um parágrafo do senso comum refrescante do famoso escritor inglês e ateu,  Julian Barnes:

“Uma resposta comum em inquéritos sobre as atitudes religiosas é dizer algo como: ‘Eu não vou à igreja, mas eu tenho a minha própria ideia pessoal de Deus.’” Este tipo de declaração, por sua vez, me faz reagir como um filósofo estupefato. Na verdade, eu choro.

 Você pode ter a sua própria ideia pessoal de Deus, mas que ideia pessoal esse suposto Deus tem de você? Porque isso é o que importa se há um Deus. Se existe um Deus, Ele não pode ser concebido por tua mente... e a mente dele tem que ter uma ideia pessoal de você... e se Ele é Deus, é isso que importa.

 Se  Ele é um homem velho de barba branca sentado no céu, ou uma força de vida, ou uma força motriz desinteressada, ou um relojoeiro, ou uma força moral nebulosa, o que conta é o que Ele é  - O que você pensa dele não importa, mas o que Ele pensa de você, ou Ele se torna mera criação de tua mente.”

 Você vê? Mesmo um ateu pode ver que a noção de redefinir a divindade em algo que funciona para você é completamente grotesco.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Deus Quebra as Regras? - Tzvi Freeman


Pergunta:
 Eis aqui uma questão que tem me incomodado bastante há muito tempo. O mundo funciona através das leis de causa e efeito e das leis da natureza. Se é assim, como Deus “coloca o pé na porta” neste mundo? Deus supera as leis de causa e efeito e as leis da natureza, ou de certa forma Ele manipula essas leis para impor Sua vontade?
Resposta:
 Deus não “se mistura” nos assuntos do mundo porque não há nada em que se misturar. Tudo nada mais é que uma extensão de Seu auto-saber, “o Conhecedor, o Conhecimento e o Conhecer são todos um”. Se Deus escolhe conhecer o universo de uma maneira, é assim que deve ser. Se souber de outra maneira, será desta maneira.
 É difícil entendermos isto porque todos os nossos atos são dentro e sobre um mundo que estava aqui antes de nós, sobrevive depois de nós, e é inteiramente indiferente à nossa opinião de como as coisas deveriam ser.
 O sol nasce a leste independentemente de nossa preferência pelo local onde está a janela do quarto. Os pais são mais velhos que seus filhos, apesar da maneira pela qual o filho vê as coisas. Um mais um sempre resulta dois, não importa se nosso contador gosta que seja assim ou não.
 Não fazemos as regras, somente julgamos o jogo dentro delas. Mas para o Criador, tudo poderia ser muito bem Sua fantasia e Ele pode fantasiar como quiser. Nesse caso, um milagre para Deus é mais simples que a natureza. Governar a natureza significa simplesmente trancar-Se em regras consistentes.
 Um milagre significa quebrar as regras e improvisar um pouco. Deus criou um mundo tão maravilhoso, com tamanha consistência, que aqueles que desejam mantê-Lo fora de suas vidas podem acreditar que Ele não existe. Apesar disso, pelo bem daqueles que procuram firmemente a verdade, Ele atira um pouco de brilho de vez em quando, espreitando sorrateiramente por detrás do biombo.
 Vou lhe dar um exemplo. Num glorioso dia de verão, enquanto eu estava passeando, parei perto de um prédio e ouvi música de piano lá dentro. Pensei comigo mesmo: “Aqui ninguém toca piano. Deve ser uma gravação.” Mas então ouvi um pouco mais e algo me deu a impressão de que era um piano ao vivo.
 Decidi portanto ficar mais um pouco e esperar. Então ouvi aquilo que estava esperando. O pianista fez um erro na música, corrigiu-o, e então continuou. Agora, através de uma inconsistência, eu sabia que havia um músico. Da mesma maneira, desde que Deus siga a música que Ele escreveu – aquelas “grandes cordas de ritmos pelo universo”, como descreve Richard Feynman – podemos nos enganar para crer que há somente música, sem um músico.
 Portanto de vez em quando Ele faz uma improvisação, alguma inconsistência na forma que chamamos de milagre. E então sabemos que há um Pianista tocando este imenso piano e dirigindo uma orquestra. Deus quebra as regras? Deus e Nós.

Frase - C. S. Lewis (1898 - 1963)


segunda-feira, 9 de maio de 2016

Um Antídoto para o Desespero - Chana Weisberg


Quando você se sente envolvido num poço fundo e escuro de desespero, quando seu coração se sente partido em mil pedaços, quando você simplesmente não consegue mais lutar contra os dolorosos desafios nem mais um só momento.Você simplesmente poderia não ter de fazê-lo. Seu momento seguinte pode ser totalmente diferente do seu momento atual.

 O filósofo Kierkgaard, que semeou as raízes da psicologia existencial, escreveu de maneira eloquente: “Um ser, a todo instante em que existe, está no processo de tornar-se, pois o ser… é somente aquilo que vai se tornar.”. E apesar disso, a fonte de grande parte de nosso sofrimento é que vemos nossas vidas de maneira limitada, como uma foto instantânea, acreditando que aquilo que temos agora representa como fomos e como seremos.

 Porém tudo em nosso mundo continua num estado de fluxo. A cada momento há uma enorme mudança. A mudança pode ocorrer tão levemente que chega a ser imperceptível aos nossos olhos e mente, mas está ocorrendo. A mudança é incessante. Um vaso ou um móvel muda a todo momento, mesmo que pareça permanente.

 Perde a cor e se torna antigo, não de repente, mas momento a momento. Isso é verdadeiro sobre objetos inanimados, e se aplica ainda mais à dinâmica física, psicológica e espiritual. A célula típica de nosso corpo morre após 100 dias ou algo equivalente, a cada segundo, 2.5 milhões de células sanguíneas nascem, e no mesmo segundo morre uma quantidade correspondente.

 Este ciclo de nascimento e morte ocorre constantemente. Nas palavras de Rollo May: “A personalidade pode ser entendida somente como a vemos numa trajetória rumo ao seu futuro; um homem pode entender a si mesmo somente à medida que se projeta para a frente. Este é o corolário do fato de que a pessoa está sempre se tornando, sempre emergindo, no futuro. O ser deve ser visto em sua potencialidade.” 

Alguns desafios não vêm e vão, mas continuam a nos afligir durante toda a nossa vida. Porém, mesmo então, um novo conjunto de circunstâncias está constantemente sendo concebido e formado, criando o processo de mudança.

 William James escreve: “A grama do lado de fora da janela agora me parece do mesmo verde quando está ao sol ou na sombra, e mesmo assim um pintor teria de pintar uma parte em marrom escuro, outra em amarelo brilhante para dar seu verdadeiro efeito sensacional. Não consideramos, como uma regra, a maneira pela qual as mesmas coisas se parecem e soam e cheiram a distâncias diferentes e sob diferentes circunstâncias. “O mesmo objeto não pode facilmente nos dar a mesma sensação outra vez… Cada pensamento que temos sobre um determinado fato é, estritamente falando, único e somente tem uma semelhança pequena com nossos outros pensamentos sobre o mesmo fato. Quando o fato idêntico se repete, devemos pensar sobre ele de maneira nova, vê-lo sob um ângulo um tanto diferente, e apreendê-lo em relações diferentes daquelas nas quais apareceu da última vez.”

 Em uma das narrativas mais comoventes de esperança emergindo de dentro daquela escuridão avassaladora, a Bíblia registra a primeira troca de palavras entre Deus e Moisés. O povo judeu tinha passado pela mais severa degradação sob a tirania dos seus opressores egípcios.

 Deus ordena a Moisés que revele que Ele irá libertá-los do cativeiro. Moisés responde perguntando o que deveria dizer em nome de Deus. Moisés estava pedindo uma mensagem de consolo e esperança para levar a um povo alquebrado cujo Deus aparentemente os tinha abandonado durante as últimas décadas, deixando de ouvir seus gemidos angustiados.

 Deus responde de maneira elusiva. Moisés deveria transmitir aos escravos judeus que o nome de Deus é “Eu serei aquele que serei.” Por algum tempo, a escravidão se tornou pior depois da mensagem de esperança de Moisés. Embora as sementes da redenção estivessem semeadas, sob a perspectiva do povo, nada tinha mudado.

 E mesmo assim, a situação estava mudando dramaticamente. Talvez a mensagem de Deus ao povo extraviado seja a mensagem de Deus para nós, em nossos momentos de angústia, que podemos conectar a Divindade com “Eu serei aquele que serei” – o poder de ser.

 Somente quando somos capazes de perceber que ser é inseparável de tornar-se, podemos nos libertar das amarras da servidão às nossas ansiedades e hábitos que nos derrotam. O presente é apenas aquilo que trouxemos de nosso passado, e aquilo que usaremos para forjar nossos futuros imediatos.

 Trazer esta verdade à nossa consciência pode nos ajudar a encontrar consolo à medida que encontramos as provações no tempo presente de nossa vida. Portanto, quando as trevas parecem avassaladoras, quando a monotonia entediante está levando você ao limite da insanidade, encontre conforto na percepção de que nada em nosso mundo permanece estático.

 Não os nossos desafios atuais. Não quem nós somos. Você, sua vida e as circunstâncias são uma parte integrante do labirinto do plano cósmico de Deus, emergindo de novo a todo instante. Não existe o estático “ser”. Há somente aquilo que fomos – e mais importante, aquilo que escolhemos nos tornar.

Frase - C. S. Lewis (1898 - 1963)


sábado, 7 de maio de 2016

Como Deus Decide o que é Certo e Errado? - Tzvi Freeman

Pergunta:

 Gostaria de saber sua opinião sobre aquele diálogo de Platão no qual Sócrates argumenta (com Euthyfro, creio) que os atos morais não são morais porque os deuses os amam, mas sim que os deuses amam os atos morais porque eles são morais (a discussão em si era sobre piedade). A filosofia contemporânea adotou a opinião de Sócrates.

 Porém, eu creio que a opinião da Bíblia – se é que entendi corretamente – é que Sócrates a entendeu ao contrário: o que torna o roubo etc. errado não é uma qualidade intrínseca no ato que nós, bem como Deus, podemos perceber. O que torna o roubo errado é que ele desagrada a Deus (ou que Deus decidiu que não deseja que roubemos).

Resposta:

 O ponto crucial neste caso é que para Platão e Sócrates, as coisas são como são porque elas devem ser dessa maneira. O tempo e a matéria são entidades necessárias. Os princípios da geometria euclidiana são “verdades auto-aparentes” que não poderiam ser de outra forma. Essa noção percorre toda a Filosofia Grega.

 E talvez seja o ponto principal de divergência com o pensamento bíblico. O Deus das Escrituras tem livre arbítrio. Ele escolheu tempo e espaço. Porém, Ele poderia da mesma forma ter escolhido inteiramente outros parâmetros. De maneira alguma podemos compreender o que aqueles parâmetros poderiam ser, pois Ele não os escolheu e portanto eles jamais vieram a existir, nem sequer em conceito.

 Porém, não há nada obrigatório sobre o tempo e o espaço em particular, ou sobre a maneira de eles funcionarem, que obrigue o Criador a criá-los. E o mesmo ocorre com as leis da lógica, causalidade, geometria, e sim, ética. Este é verdadeiramente o conceito por trás do primeiro versículo da Bíblia, “No princípio Deus criou os céus e a terra.”

 Como você sabe, na Septuaginta, (a antiga tradução grega da Bíblia), Deus faz céu e terra – porque os gregos simplesmente não tinham uma palavra para criação a partir do nada. A ideia para eles era mais que absurda – nem sequer estava no léxico. E ainda há mais: A forma ativa do verbo (Deus criou – não “céu e terra vieram a existir”) implica que esse foi um ato voluntário.

 Na verdade, quando o ato da Criação é descrito como se Deus desejasse criar , pois de certa forma nada tinha de ser criado. Mas Ele criou, portanto estamos aqui. A arrebatadora inclusão de “céu e terra” também tem implicações de peso. O céu geralmente é entendido na mitologia como a fonte de nossa existência aqui neste mundo.

 A maneira pela qual os deuses estão lá em cima é culpada por estarmos aqui em baixo. Porém, na Bíblia nada precede a nossa existência. Deus, que não pode realmente ser chamado de “uma existência”, deu origem a tudo a partir do vazio. Nada precede nossa existência, nem mesmo a ausência dela – pois não havia tempo segundo quase todos os estudiosos clássicos das Escrituras.

 Portanto não houve o antes. Ao criar nossa existência, Deus cria também a ausência dela – o que significa que também poderia não ser. Portanto, o Deus da Bíblia não pode ser chamado corretamente de uma “Causa Primordial”, pois isso implicaria um efeito necessário em consequência da causa.

 A existência do universo não tem causa. Não havia um potencial para um mundo existir precedendo-o. Nada. E assim, poderia ser feito de qualquer maneira que Ele quisesse que fosse feito.

Ética Desnecessária

 Quanto ao assunto que você abordou, a ética. Se o cosmo fosse uma existência necessária, tanto em matéria quanto em forma, a pessoa teria de concluir que a ética necessária para sustentar este cosmo também é necessária. A questão de por que existe o mal no mundo teria de ser desconsiderada, presumindo que isso também é algo necessário, como um artefato da matéria da qual o mundo foi feito, ou alguma outra explicação semelhante.

 Porém, é assim que os eruditos colocaram este ponto num antigo estudo de Gênesis: No despertar da Criação do mundo, Deus contemplou os atos dos justos e os atos dos perversos… “E o mundo era caos e vácuo” (Gênesis 1:2) – estes são os atos dos perversos. “E Deus disse: ‘Que haja luz.’ (versículo 3) – estes são os atos dos justos. Porém, eu ainda não sei qual deles Ele deseja… Então, ao declarar ‘E Deus viu a luz, que é boa’ (versículo 4), eu sei que Ele deseja os atos dos justos, e não deseja os atos dos perversos. 

 Esta analogia está dizendo: No primeiro dia da Criação, Deus disse que deveria haver luz. Porém, havia também trevas, caos e vazio. Então a Bíblia nos relata que Deus chamou a luz de dia e a escuridão Ele chamou de noite. Muitos interpretam luz e escuridão num sentido mais amplo.

 À essa altura, já existem duas opções: os atos dos justos e os atos dos perversos. E nesse ponto, não há como saber qual deles Deus deseja. Não há nada intrínseco sobre o bem ou sobre Deus dizendo que deve escolher o bem. O Livro de Jó declara: “Se você pecar, como O afeta? Se suas transgressões se multiplicarem, o que você faz a Ele? Se você age corretamente, o que deu a Ele? O que poderia Ele receber de sua mão?”(Jó 35.5-7)

 Então, a história em Gênesis continua e diz: “E Deus viu a luz, que era boa.” Portanto agora sabemos que Deus preferiu desejar os atos dos justos. Porém, Deus não teve de escolher entre bem e mal. Ele poderia ter escolhido violência, roubo e todos os outros elementos destrutivos. 

 Mais significativamente, Ele poderia ter escolhido que o bem e o mal permanecessem em constante conflito. Deus poderia ter decidido que a escuridão forma um belo cenário para a luz, e que o mal também é um bom pano de fundo para o bem. E Ele poderia simplesmente ter desejado que as coisas continuassem daquela maneira, eternamente. Ele não o fez – mas a opção estava lá.

Tolerar o Mal

 Esta é a melhor explicação que eu conheço para o grande dilema do mal; como Deus criou “os céus e a terra,” e como Ele escolhe o bem e não o mal, então como o mal jamais veio a existir? Como pode ser que algo oposto à Sua vontade fosse derivado de Sua vontade? Uma vez que acreditamos em criação, incluindo, o próprio material do qual tudo é feito, não há ninguém nem nada a culpar pelo mal.

 Tudo vem d’Ele. Se Deus odiasse o mal porque este se opõe a Ele em essência, este dilema seria intransponível. Uma vez que dizemos que Ele escolheu odiar o mal, o assunto é descartado. Pelo contrário, aquela mesma escolha de odiar o mal é a suprema fonte que traz o mal à existência por implicação. Afinal, não se pode odiar algo que não existe.

 Portanto o mal existe para que Deus pudesse desprezá-lo. Ou melhor, existe por causa do desprezo que Deus tem por ele. Toda história escrita tem um antagonista. Todo jogo apresenta um desafio. E Deus criou o mal. Como declarou o Profeta Isaías com toda a clareza: “Ele forma luz e cria escuridão, faz a paz e cria o mal” (Isaías 45:5). Sua vontade cria o bem e seu desdém cria o mal.

 Quando Jeremias testemunhou a destruição de Jerusalém e do Templo, ele gritou: “Onde está Sua percepção? Onde está Sua força? Os idólatras estão dançando em Seu Templo e Ele fica em silêncio!” Deus não é forçado a agir contra o mal, pois a própria existência do mal é por Sua opção. Ele pode se afastar (figurativamente, é claro, pois nós O entendemos como um Ser eminente e transcendente) e assistir ao desenrolar do drama.

Seu Livre Arbítro e o Nosso

 Isso explica nosso âmbito do livre arbítrio: Como o bem e o mal existem pela vontade de Seu Criador, assim também são acionados pela vontade. Em outras palavras, nós, os atores neste drama, escolhemos o caminho de nosso drama, na direção do bem ou do mal, assim como o Autor escolheu que estes caminhos devem existir em primeiro lugar. Os ciclos da natureza, os caminhos das estrelas, as leis do movimento, etc – em todos esses ( na maior parte da nossa vida diária), não temos escolha.

 Somente em questões de escolher entre o bem e o mal é que temos uma opção. Não podemos fazer a primavera chegar antes do inverno, nem fazer os filhos mais velhos que os pais, ou fazer com que um mais um totalize cinco. Porém, podemos decidir não tratar mal o sujeito que trabalha na outra sala, ou doar algum dinheiro a mais para uma boa causa. Como diz uma frase: “Tudo está nas mãos do Céu, exceto o temor ao Céu.”

 Mas Deus também tem livre arbítrio em determinar estas leis e padrões? Como Deus é um agente livre em todas as coisas, também deveríamos ser! Primeiro Deus escolheu o que seria o bem e o que seria o mal, e a dinâmica entre eles. Uma vez isso estabelecido, todas as coisas foram projetadas como pano de fundo para este drama. Como o drama já tinha sido escrito, o pano de fundo somente poderia ser projetado de uma maneira. Não havia opção. Portanto nós, também, não temos escolha nestes assuntos.

Ódio Absoluto

 Um último ponto: a pessoa pode tomar um caminho errado sob a influência da discussão acima, presumindo que como Deus escolheu odiar o mal, este não importa realmente tanto para Ele, pois Ele sempre poderia dar meia volta e mudar de ideia. Na verdade, o oposto é verdadeiro. Quando algo é odiado por algum motivo, o grau de ódio é proporcional ao mérito daquele motivo.

 Mas quando, sem nada que force uma ou outra maneira, Deus escolhe a luz e não as trevas, esta é uma opção vinda da própria essência de Deus. É, portanto, completamente obrigatória. Deus pode nos perdoar por escolher o mal, pois Ele está acima do drama. Porém Ele não perdoa o mal em si. Afinal, foi isso que Ele escolheu: que Ele odiará o mal com um ódio consumado, e por fim o terá destruído – que seja antes do que possamos imaginar.