Há coisas que parecem santificação, mas não são.
a. A primeira imitação da santificação é a virtude moral
Ser justo, temperante, de bom comportamento, não ter a fama manchada com um escândalo vergonhoso é bom, mas não é o suficiente, não é santificação. Um campo florido é diferente de um jardim. Pagãos se apegaram à moralidade, como Catão, Sócrates e Aristides. A boa educação é somente uma natureza refinada, não há nada de Cristo nela, o coração pode ser impuro e abominável. Debaixo dessas folhas de boa educação, o verme da descrença pode estar escondido. Uma pessoa virtuosa tem uma antipatia secreta contra a graça, odeia o vício e também a graça tanto quanto o vício. A serpente tem uma bela cor, mas pica. Uma pessoa enfeitada e alimentada com uma virtude moral pode ter um afeto secreto contra a santidade. Os estoicos, que eram os principais pagãos moralistas, foram os inimigos implacáveis de Paulo (At 17.18).
b. A segunda imitação da santificação é a devoção supersticiosa
Isso é abundante no papado. As adorações, as imagens, os altares, as vestimentas e a água benta, coisas que eu entendo como frenesi religioso, e que estão longe da santificação. Nada disso acrescenta nenhum bem intrínseco ao homem, não faz o homem melhor. Se as purificações e as lavagens da lei, que eram orientações do próprio Deus, não fizeram daqueles que as praticaram mais santos, e os sacerdotes que vestiram vestimentas santas e tiveram óleo derramado sobre si só eram santos com a unção do Espírito, então, certamente, as inovações supersticiosas na religião, que Deus nunca orientou, não podem contribuir para qualquer santidade dos homens. Uma santidade supersticiosa não custa muito, não há nada do coração nela. Se santidade fosse dizer orações com uso de um rosário, curvar-se diante de uma imagem, benzer-se com água benta, e tudo aquilo que é requerido daqueles que creem nessas coisas para salvação, então o inferno estaria vazio, ninguém entraria lá.
c. A terceira imitação da santificação é a hipocrisia
Hipocrisia é fingir uma santidade que se não tem. Assim como um cometa pode brilhar e se parecer com uma estrela ou como um lustre pode brilhar em seu lugar a tal ponto de ofuscar os olhos dos que o contemplam. "Tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder" (2Tm 3.5). São lâmpadas sem óleo, sepulcros caiados como os templos egípcios que eram bonitos do lado de fora, mas dentro havia todo tipo de podridão. O apóstolo fala da santidade verdadeira em Efésios 4.24, implicando que há uma santidade que é espúria e fingida. "Tens nome de que vives e estás morto" (Ap 3.1), são como quadros e estátuas destituídas de um princípio vital: "Nuvens sem água" (Jd 12). Fingem estar cheios do Espírito, mas são nuvens vazias. Isso mostra a santificação como uma auto-alucinação. Quem pega o cobre no lugar do ouro engana a si mesmo.
Os santos mais falsos enganam os outros enquanto vivem, mas enganam a si mesmos quando morrem. Fingir a santidade quando não há nenhuma é uma coisa vã. Que vantagens levaram as virgens néscias que tinham lâmpadas fulgurantes quando precisaram de azeite? Qual é a utilidade de uma lâmpada sem o azeite da graça salvadora? Que consolo uma demonstração de santidade trará no final? Será que algo pintado com a cor de ouro pode enriquecer? A pintura de água pode refrescar aquele que está com sede? Ou a santidade imaginária será um sofrimento na hora da morte? Não se deve acomodar com uma pretensa santificação. Muitos navios que tinham o nome de Esperança, Triunfo e Vigilante foram lançados contra as rochas, assim, muitos que tiveram o nome de santos foram lançados no inferno.
d. A quarta imitação da santificação é a graça suprimida
Isso acontece quando os homens se abstêm do vício, embora não o odeiem. O lema de um pecador pode ser assim: "Eu estaria disposto, mas não tenho coragem". O cão só pensa no osso, mas tem medo do bastão, assim os homens têm a mente para a luxúria, mas suas consciências se posicionam como aquele anjo com uma espada flamejante e, assim, ela os amedronta: eles têm a mente para a vingança, mas o medo do inferno é como um freio de cavalo que os adverte. Não há mudança de coração, o pecado é freado, mas não exterminado. Um leão pode estar enjaulado, mas ainda é um leão.
e. A quinta falsificação da santificação é a graça comum
É uma obra tênue e passageira do Espírito, mas que não ajuda na conversão. Há um pouco de luz em um julgamento, mas não o é para a humilhação pessoal. Alguns têm peso na consciência, mas não acordam.
Parece santificação, mas não é. Os homens têm as convicções formadas neles, mas abrem mão dessa convicção, como o animal que, ao ser flechado, livra-se da flecha. Depois da convicção, os homens vão à casa da alegria, pegam a harpa para expulsar o espírito de tristeza e tudo morre e não se chega a nada.
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