Cá entre nós, eu detesto ser chamado de religioso. Parece
tão tedioso e pejorativo. Lembro-me de uma pessoa que certa vez me disse o quanto me
invejava. "A vida para você é tão simples" – disse ele. "Sua
religião lhe diz o que fazer e o que não fazer, e lhe dá todas as
respostas." Puxa, quisera eu. Mas na verdade, é isso que a palavra "religião"
traz à mente: algo um tanto antigo e sóbrio, talvez até um tanto mal-humorado.
Alguma coisa calma e pacífica, quase morta e nunca em movimento. E portanto
rejeito o título de "religioso". Sou apenas um sujeito que se parece
com uma pessoa religiosa. Então, o que eu sou? Bem, na verdade, a vida para mim se parece mais com um campo
de batalha que com um serviço de prece, e minha realidade interior é mais de
guerreiro que de alguém piedoso. Portanto, se eu tiver de rotular-me de alguma
forma (algo que eu procuro evitar), diria que sou um "guerreiro
espiritual".
E aqui está o que isso significa para mim. Um guerreiro é aquele que entra no campo de batalha com uma
saudável dose de medo e uma dose ainda maior de amor. Ele luta por um princípio
ou pelo seu rei, e seu amor por eles sobrepuja o medo que sente pela própria
segurança. Ele precisa de coragem e talento, pois está arriscando sua própria
vida. Um guerreiro ama o campo de batalha; é ali que se sente mais vivo.
Deve
agir o tempo todo com plena consciência e habilidade; até o menor lapso pode
provocar sua queda. O campo de batalha faz surgir no guerreiro capacidades e potenciais que ele nem
sequer suspeitava existirem dentro de si. E assim, ao lutar, ele está num
estado constante de auto-descoberta. O verdadeiro guerreiro anseia pelo campo de batalha, pois o
resto da vida parece, em comparação, um local onde ele consegue apenas
concretizar uma pequena parte daquilo que ele é.
Portanto, anseia pelo desafio
e pelo confronto. Adora viver por um fio. É ali que ele é mais ele, e onde
descobre que, na verdade, é mais do que pensa ser. Viver como cristão é esta experiência. É um
encontro com o Todo Poderoso e comigo mesmo. É o local da auto-descoberta e do
desafio. Exige a bravura de enfrentar quem eu sou e quem não sou. É preciso
disposição para ver o potencial de quem eu posso ser, e enfrentar a pequenez de
quem eu me permito ser.
Quando eu estou vivendo de modo cristão estou vivendo no
limite. Estou numa terra de ninguém, onde cada encontro, cada momento, apresenta
uma chance de aprender, de agir, de refinar e transformar. Às vezes, como o Rei
Arthur, estou lutando contra dragões interiores e exteriores; ou desafiado por
feras que ameaçam me devorar com sua fúria e temor; às vezes estou lutando pela
minha própria sanidade, tentando reconciliar o mundo real com um mundo que não
pode ser visto, ouvido ou tocado.
Como guerreiro espiritual, quando sou abençoado por estar
vivendo no meio do campo de batalha, eu estou plenamente vivo, lutando no
limite daquilo que eu sou. Não importa se estou em oração, dando um banho no meu
filho, ou sentado trabalhando no computador. O campo de batalha inclui meus
relacionamentos pessoais, meus desejos interiores, minha conta bancária
estourada, e minha constante falta de sono. Abrange meu casamento e meu
emprego.
Minha frustração, paciência, inveja, luxúria e ganância. É um estado
de espírito, uma disposição de encontrar Deus em todos os lugares e de
encontrá-Lo plenamente, permitindo-Lhe penetrar nos mais profundos recessos de
quem eu sou, e descartar todas as imagens de quem eu penso que sou. A cada vez, e há muitas dessas vezes, que eu confronto o
imperativo daquilo que devo fazer com a relutância daquilo que eu quero fazer;
a cada vez que eu devo transformar pensamentos e atitudes formadas durante anos
de vida e condicioná-las em pensamentos sagrados e atitudes sagradas, eu estou
no campo de batalha.
Seja ao doar algumas moedas para caridade, ou aceitando uma
responsabilidade adicional, ou oferecendo ajuda a um amigo ou a um "inimigo"
quando mal consigo me manter acordado, estou no campo de batalha. Quando a
tragédia atinge a minha família, Deus não o permita, e preciso descobrir uma
maneira de expressar minha dor e ao mesmo tempo permanecer consciente do bem
que eu sei que Deus concede ao mundo, estou sendo um guerreiro espiritual.
Desta forma, descubro minha fé quando estou nos limites da minha fé. Encontro
meu amor a Deus quando estou furioso com Deus. Encontro minha confiança no
Protetor do mundo nos momentos em que estou mais assustado. E descubro minha
obediência ao Todo Poderoso quando me sinto mais rebelde. Sou um guerreiro espiritual quando sinto plenamente o meu desespero, e encontro
a esperança para seguir em frente.
Quando me sinto traído, e mesmo assim
descubro minha confiança. Quando subo mais alto do que deveria, então fracasso e caio, apenas para
descobrir que aterrissei num ponto mais alto do que aquele de onde eu subi. Neste campo de batalha cristã, sou esticado até
o limite somente para descobrir que o meu limite não é aonde eu pensava que
era. Estou vivo e crescendo, mudando, em constante processamento. Assustado e
empolgado. Ansiando pela vitória e não tendo a menor idéia do que isso
significa.
Na realidade nós devemos alegrarmo-nos quando somos desafiados
interna ou externamente, porque esta é a nossa tarefa: entrar no campo de
batalha. Nós somos, assim me parece, como soldados que treinaram
incansavelmente para a batalha, e gritam alegres quando finalmente chega o
momento de testar suas habilidades e encontrar o verdadeiro material de que são
feitos.
E este é o desafio do guerreiro espiritual: encontrar o material de que é
feito, goste ou não, e entrar de cabeça na luta consigo mesmo e em seu encontro
com Deus. Acho esta batalha apavorante, porque não sei aonde ela
levará. Isso me força a abrir-me para Deus e permitir que Ele entre nos mais
recônditos confins do meu ser. Isso me força a confrontar a questão pungente:
se eu realmente deixar Deus entrar, o que Ele fará comigo quando estiver aqui?
Quem eu serei? O que o mundo se tornará? E qual é meu lugar e propósito dentro
dele?
Religioso? Eu? Dificilmente. Uma vida de cristão não é lugar
para uma pessoa religiosa. A religião é segura demais para uma jornada como
esta, ao desconhecido, até um local de encontro com Deus. Somente um guerreiro
pode abraçar tamanha missão. Somente um cristão pode ter a esperança de possuir tamanha coragem.
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