quarta-feira, 29 de julho de 2015

Autossuficiência




Pergunta:
Mesmo se eu pudesse acreditar em Deus e religião, por que iria querer isso? A raça humana não pode tomar conta de si mesma?

RESPOSTA:
 Em minha opinião, a pior piada prática pregada sobre a humanidade é que o homem pode tomar conta de si mesmo. Quantas pessoas precisam morrer até percebermos que o homem nada sabe sobre a natureza humana, a sociedade e outros esforços humanos?

 Por que o século mais avançado de toda a história testemunhou o extermínio de mais de cem milhões de pessoas? Mais seres humanos foram assassinados neste século - e em nome do progresso, esclarecimento e justiça - que em todos os outros séculos juntos! (Não ignoro o fato de que terrível dano foi infligido em nome da "religião." O que desejo provar é que sem ela estamos ainda piores.)

 Por que os livros escolares são escritos e reescritos a cada poucos anos? Por que é que novas maneiras de ensinar, ler e escrever estão constantemente sendo criadas e descobertas? E por que o homem continua tentando todos os tipos de governos e leis - achei que já estivesse fazendo isso por tempo suficiente para fazê-lo direito!

 E ainda. Embora você possa sentir-se bem agora, e imaginar como as coisas poderiam ser melhores, deixe-me acrescentar dois detalhes:

1. Você não pode saber que "nova grande idéia" será pensada nos próximos dez anos. Religiões e filosofias precisam de pouco tempo para se espalharem. Por exemplo: Nazismo e Comunismo.

2. Todo o progresso que você aprecia é baseado em valores da Bíblia! Igualdade perante a lei, nenhuma discriminação, e tudo que há de bom.

 A palavra que se destaca é "moralidade." A moralidade não pode ser baseada em nada feito pelo homem. Deve vir de fora do ser humano, por isso Deus nos deu a Bíblia. 

 Isso é chamado de Absolutismo Moral, e contrasta com Relativismo Moral, no qual o homem faz tudo que quer e apenas reescreve as regras para tornar certo o que é errado, e vice-versa. Estando além de nossas mentes, a Bíblia acerta sempre.

 Eis então por que você deveria querer acreditar em Deus e na Bíblia: porque a crença em nossas mentes até agora só nos trouxe problemas sérios. A verdade é, a menos que se diga ao homem aquilo que é certo, ele a inventará à medida que prossegue.

 Destruirá tudo que ficar em seu caminho. Nada o deterá. Não confio no homem para inventar doutrinas morais. Temo que, mais que qualquer outra coisa, a História Humana tem provado meu argumento.

terça-feira, 28 de julho de 2015

A "igreja perfeita" e a desculpa de nossa geração! - Josemar Bessa


 Muitas pessoas, num mundo que prega abertamente o individualismo,  e cada homem como medida do que é bom e correto para si mesmo, tentam encontrar desculpas que racionalizem o problema nascido no Éden, o homem sendo “deus” de si mesmo. Uma das desculpas é sempre tirar a responsabilidade pessoal pelo meu fracasso e colocá-lo em grupos maiores que não tem uma cara específica.
 Gostamos e abraçamos como desculpa os pecados institucionais, tão condenados diariamente, e pouco falamos dos pecados pessoais, que em última análise, são o nosso verdadeiro problema. Muitos falam da imperfeição da igreja apenas como uma desculpa para sua vida vivida em torno de si mesmo. Por exemplo, a unidade da igreja – A unidade da igreja ( olhe para a igreja local) não significa a ausência de conflitos.
Quando Cristo orou pela unidade, ele também orou pela santificação de sua igreja (João 17.17). A necessidade de santificação pressupõe a presença do pecado, e presença do pecado resulta muitas vezes, como não podia deixar de ser, em desunião. Cristo sabia disso, ele não ora de forma ingênua, ele orou por igreja verdadeiras num mundo real e caído, orou por igrejas imaturas, por igrejas perseguidas que lutariam com o medo..., igrejas que teriam problema com o orgulho, igrejas com membros pecadores...
 Ou seja, igrejas como as que o apóstolo Paulo fundou e dirigiu, e Pedro, e João... e tiveram que escrever cartas, admoestar, repreender... Igrejas como as que Jesus repreende através de João em Apocalipse 1-3. Mas a oração de Jesus ainda é que esses pecadores justificados, regenerados... estejam juntos, se mantenham juntos... Por quê? O plano de muitos hoje seria cada um ficar em sua casa até que todos fossem perfeitos para se juntarem.
 Mas Jesus os quer juntos e ora para que sejam santificados pela Palavra... pecadores que muitas vezes tem conflitos juntos? Por que? Porque Jesus usa os pecados irritantes dos outros para expor nossos próprios pecados, criando oportunidades de tolerar, desenvolver a paciência, orar por transformação, aprender a perdoar... cumprindo assim uma instrução fundamental: “amar uns aos outros” (Jo 13.34-35).
 Como Ele nos amou, como Ele amou os discípulos... se havia algo longe de qualquer perfeição era o grupo de discípulos que andou com Jesus naqueles três anos: Pedro, Tiago e João, Tomé... Quanto orgulho e disputa por primeiro lugar houve entre eles, quanto medo, quanta incredulidade... Tudo isso levou a desunião muitas vezes, mas a contenda que naturalmente leva a desunião traz consigo a possibilidade de refinar a igreja quando o pecado é confrontado, confessado... e o evangelho da graça é aplicado (Mt 18.21-35).
 O crescimento na unidade da igreja não depende de faixa etária, música... Você cria tribos, “igrejas tribais” – Em torno da juventude, estilos musicais, vestes... Não é Cristo o ponto focal dessa união – ela é humana e carnal. Sempre é a isso que nossas estratégias levam. A unidade da igreja depende da Palavra de Deus. Logo antes de Cristo orar pela unidade da igreja nos versos 20,21 de João 17, ele ora para que Deus santifique o seu povo.
 A sua oração deixa claro que a unidade tem uma base, a santificação. E ele afirma que a santificação flui da Verdade: “Santifica-os na verdade, a tua Palavra é a verdade!” Apenas quando nos humilhamos de fato sob a Palavra, não sobre partes, mas toda a Palavra, toda a Verdade. Quando abandonamos a ideia de determinar o que é relevante ou não nela, o que sempre é forjado na arrogância de um coração que não ama a Verdade, sempre que nos reunimos em torno de sua mensagem integral, mudanças espirituais verdadeira produzem unidade espiritual verdadeira.
 Unidade construída em qualquer outra base, quer seja a personalidade do líder, o estilo, o ministério específico que se molda ao gosto natural de um grupo... está destinado ao fracasso aos olhos de Deus. Só quando a Palavra é central, os membros podem de fato ser reconciliados uns com os outros, aprender a perdoar uns aos outros, amar uns aos outros... a unidade da igreja depende de empenho de todos juntos crescerem na prática na compreensão da Palavra de Deus: “Santifica-os na Verdade!”
 Muitos esperam o que nunca foi prometido por Cristo. Muitos esperam o que nunca foi experimentado por nenhuma das igrejas fundadas por Paulo, Pedro, João... A unidade da igreja não será plenamente realizada neste mundo. Portanto, muitos usam esse tema, como outros, apenas para disfarçarem sua recusa em viver o evangelho e crescer como povo e rebanho de Deus juntos. O que leva a compromisso, obediência, sujeição... e tantas outras coisas que apesar de ser o claro ensino bíblico, a mente desta geração detesta.
 Nesta geração um dos deuses  mais cultuados é o individualismo. E muitos usam de várias desculpas para cristianizarem esse deus em suas vidas. Muitos esperam hoje o que não está prometido até a volta de Cristo, o que o torna a pessoa inútil agora, no único tempo que ela tem neste mundo no trabalho de Deus na edificação da Sua igreja. Como Paulo poderia se manter útil e motivado em escrever cartas para as igrejas locais, pessoalmente lutar pela verdade de Deus nelas, pelo crescimento espiritual das pessoas... se pensasse assim?
 A esperança do futuro não pode distorcer a percepção do presente. Todos nós devíamos saber, pelo claro ensino bíblico e pela nossa luta pessoal, que vivemos em um momento em que o Espírito e a carne coexistem numa guerra. Que o mundo é um inimigo poderoso, que Satanás engana e trabalha também em nosso meio. Devemos então, de modo realista, como Jesus, orar pela paz e união da igreja, buscar “se possível estar em paz com todos” – ou seja, no que depender de nós.
 Sermos filhos de Deus, ou seja, pacificadores no meio da igreja (Mt 5.9)... mas não ficarmos surpresos quando a desunião mostrar sua feia face. Devemos em momentos assim avaliar a nossa própria contribuição tanto na quebra da união, como na responsabilidade pela paz. Este é um assunto, como muitos outros, que nós temos o já, e temos também o “ainda não”. Devemos avaliar a nossa própria contribuição para a luta, é preciso remover o registro do nosso próprio olho, e devemos esperar de novo no evangelho de Jesus Cristo.
 Sua paz é já, mas ainda não! Exercer o perdão, a paciência, a longanimidade, a benignidade, a mansidão, o amor... é estar vivendo exatamente isso. Num perfeito ambiente de paz, esses frutos não estariam sendo desenvolvidos. Um dia esse tempo chegará. Se tua aspiração fixa agora está no que ainda está no futuro, e com isso a tua desculpa está na imperfeição da igreja, sua motivação não pode ser a mesma dos apóstolos... nem mesmo a de igreja ao orar por sua igreja (João 17), mas não passa disso, desculpa e racionalização.
 No entanto, paz perfeita está prometida, e está prometida por um Deus soberano que não pode falhar e não falhará. Hoje já estamos em paz com Ele (Rm 5.1). Agora oramos pela união, temos nos tornado pacificadores, estamos sendo santificados pela Palavra... estamos engajados na batalha, e não procurando desculpas para fugir dela.

Oração de Guerra - Paulo Junior


Frase - A. W. Tozer (1897-1963)


segunda-feira, 27 de julho de 2015

Guerreiro Espiritual – Jay Litvin



 Cá entre nós, eu detesto ser chamado de religioso. Parece tão tedioso e pejorativo. Lembro-me de uma pessoa que certa vez me disse o quanto me invejava. "A vida para você é tão simples" – disse ele. "Sua religião lhe diz o que fazer e o que não fazer, e lhe dá todas as respostas." Puxa, quisera eu. Mas na verdade, é isso que a palavra "religião" traz à mente: algo um tanto antigo e sóbrio, talvez até um tanto mal-humorado. 
 Alguma coisa calma e pacífica, quase morta e nunca em movimento. E portanto rejeito o título de "religioso". Sou apenas um sujeito que se parece com uma pessoa religiosa. Então, o que eu sou? Bem, na verdade, a vida para mim se parece mais com um campo de batalha que com um serviço de prece, e minha realidade interior é mais de guerreiro que de alguém piedoso. Portanto, se eu tiver de rotular-me de alguma forma (algo que eu procuro evitar), diria que sou um "guerreiro espiritual".
 E aqui está o que isso significa para mim. Um guerreiro é aquele que entra no campo de batalha com uma saudável dose de medo e uma dose ainda maior de amor. Ele luta por um princípio ou pelo seu rei, e seu amor por eles sobrepuja o medo que sente pela própria segurança. Ele precisa de coragem e talento, pois está arriscando sua própria vida. Um guerreiro ama o campo de batalha; é ali que se sente mais vivo.
 Deve agir o tempo todo com plena consciência e habilidade; até o menor lapso pode provocar sua queda. O campo de batalha faz surgir no guerreiro capacidades e potenciais que ele nem sequer suspeitava existirem dentro de si. E assim, ao lutar, ele está num estado constante de auto-descoberta. O verdadeiro guerreiro anseia pelo campo de batalha, pois o resto da vida parece, em comparação, um local onde ele consegue apenas concretizar uma pequena parte daquilo que ele é.
 Portanto, anseia pelo desafio e pelo confronto. Adora viver por um fio. É ali que ele é mais ele, e onde descobre que, na verdade, é mais do que pensa ser. Viver como cristão é esta experiência. É um encontro com o Todo Poderoso e comigo mesmo. É o local da auto-descoberta e do desafio. Exige a bravura de enfrentar quem eu sou e quem não sou. É preciso disposição para ver o potencial de quem eu posso ser, e enfrentar a pequenez de quem eu me permito ser.
 Quando eu estou vivendo de modo cristão estou vivendo no limite. Estou numa terra de ninguém, onde cada encontro, cada momento, apresenta uma chance de aprender, de agir, de refinar e transformar. Às vezes, como o Rei Arthur, estou lutando contra dragões interiores e exteriores; ou desafiado por feras que ameaçam me devorar com sua fúria e temor; às vezes estou lutando pela minha própria sanidade, tentando reconciliar o mundo real com um mundo que não pode ser visto, ouvido ou tocado.
 Como guerreiro espiritual, quando sou abençoado por estar vivendo no meio do campo de batalha, eu estou plenamente vivo, lutando no limite daquilo que eu sou. Não importa se estou em oração, dando um banho no meu filho, ou sentado trabalhando no computador. O campo de batalha inclui meus relacionamentos pessoais, meus desejos interiores, minha conta bancária estourada, e minha constante falta de sono. Abrange meu casamento e meu emprego.
 Minha frustração, paciência, inveja, luxúria e ganância. É um estado de espírito, uma disposição de encontrar Deus em todos os lugares e de encontrá-Lo plenamente, permitindo-Lhe penetrar nos mais profundos recessos de quem eu sou, e descartar todas as imagens de quem eu penso que sou. A cada vez, e há muitas dessas vezes, que eu confronto o imperativo daquilo que devo fazer com a relutância daquilo que eu quero fazer; a cada vez que eu devo transformar pensamentos e atitudes formadas durante anos de vida e condicioná-las em pensamentos sagrados e atitudes sagradas, eu estou no campo de batalha.
 Seja ao doar algumas moedas para caridade, ou aceitando uma responsabilidade adicional, ou oferecendo ajuda a um amigo ou a um "inimigo" quando mal consigo me manter acordado, estou no campo de batalha. Quando a tragédia atinge a minha família, Deus não o permita, e preciso descobrir uma maneira de expressar minha dor e ao mesmo tempo permanecer consciente do bem que eu sei que Deus concede ao mundo, estou sendo um guerreiro espiritual.
 Desta forma, descubro minha fé quando estou nos limites da minha fé. Encontro meu amor a Deus quando estou furioso com Deus. Encontro minha confiança no Protetor do mundo nos momentos em que estou mais assustado. E descubro minha obediência ao Todo Poderoso quando me sinto mais rebelde. Sou um guerreiro espiritual quando sinto plenamente o meu desespero, e encontro a esperança para seguir em frente.
 Quando me sinto traído, e mesmo assim descubro minha confiança. Quando subo mais alto do que deveria, então fracasso e caio, apenas para descobrir que aterrissei num ponto mais alto do que aquele de onde eu subi. Neste campo de batalha cristã, sou esticado até o limite somente para descobrir que o meu limite não é aonde eu pensava que era. Estou vivo e crescendo, mudando, em constante processamento. Assustado e empolgado. Ansiando pela vitória e não tendo a menor idéia do que isso significa.
 Na realidade nós devemos alegrarmo-nos quando somos desafiados interna ou externamente, porque esta é a nossa tarefa: entrar no campo de batalha. Nós somos, assim me parece, como soldados que treinaram incansavelmente para a batalha, e gritam alegres quando finalmente chega o momento de testar suas habilidades e encontrar o verdadeiro material de que são feitos.
 E este é o desafio do guerreiro espiritual: encontrar o material de que é feito, goste ou não, e entrar de cabeça na luta consigo mesmo e em seu encontro com Deus. Acho esta batalha apavorante, porque não sei aonde ela levará. Isso me força a abrir-me para Deus e permitir que Ele entre nos mais recônditos confins do meu ser. Isso me força a confrontar a questão pungente: se eu realmente deixar Deus entrar, o que Ele fará comigo quando estiver aqui? Quem eu serei? O que o mundo se tornará? E qual é meu lugar e propósito dentro dele?
 Religioso? Eu? Dificilmente. Uma vida de cristão não é lugar para uma pessoa religiosa. A religião é segura demais para uma jornada como esta, ao desconhecido, até um local de encontro com Deus. Somente um guerreiro pode abraçar tamanha missão. Somente um cristão pode ter a esperança de possuir tamanha coragem.

Frase - A. W. Tozer (1897-1963)


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Refutações ao Espiritismo Kardecista - S. V. Milton



Primeiramente listaremos no que creem e no que não creem os kardecistas, tendo em vista naquilo em que creem os cristãos.

- Não creem em um Deus pessoal(alguém com quem podemos nos relacionar)
- Não creem na Bíblia como inspirada por Deus
- Não creem que Jesus Cristo é o filho de Deus
- Não creem na ressurreição dos mortos
- Não creem na história de Adão e Eva
- Não creem em expiação pelo pecado
- Não creem em um Juízo Universal
- Não creem na Salvação da alma
- Não creem em milagres
- Não creem no inferno
- Não creem no céu
- Creem em reencarnação
- Creem em Carma
- São sincretistas religiosos

 Embora exista adeptos que não consideram o espiritismo uma religião. Kardec deixou registrado em seus escritos que "o espiritismo é uma religião e, como tal, pretende abordar o destino do homem após a morte física". Os Kardecistas recebem grande influência do evangelho de Jesus, mas não o aceitam como manual de orientação para a salvação da alma, uma vez que não creem na ressurreição do corpo e no juízo universal. Para eles, os ensinamentos de Jesus são de ordem exclusivamente moral, algo para ser observado como regra de conduta e não imperativo de salvação. Em consequência, aceitam Jesus como o maior dos iluminados entre os que viveram na terra, um grande filósofo, mas não o Filho unigênito de Deus, enviado para trazer redenção à humanidade através de seu sacrifício vicário. Esta verdade não bate com a tese da reencarnação, ou da auto expiação tido como um dos fundamentos do Kardecismo.

 Por acreditarem que as boas ações praticadas nesta vida serão úteis como atenuantes ou créditos para futuras reencarnações, encaram as obras de caridade como fundamentais na vida do homem, não algo espontâneo, oriundo do sentimento de compaixão que deve caracterizar o verdadeiro cristão. É comum observarem-se entidades filantrópicas e de assistência social fundadas e dirigidas por espíritas, que mantêm hospitais, manicômios, creches, escolas, asilos e outras organizações do gênero. É também mais comum entre os kardecistas e pessoas que compactuam do mesmo pensamento, a adoção de crianças ou o chamado apadrinhamento, o que acreditam acrescentar maior crédito no banco celestial. O conjunto doutrinário observado por eles está firmado no trinômio fidelidade, sanidade e moralidade.

 Tendo estas três palavras como colunas de sustentação, o verdadeiro espírita kardecista procura viver sobriamente, praticando a moderação e evitando excessos para não arriscar o comprometimento da sua conduta. Esforçam-se ao máximo para perdoar uma ofensa ou um crédito não quitado, pois acreditam que tudo é retribuição daquilo que fizeram nas encarnações passadas. É o conformismo imposto pela crença. O sincretismo religioso é outra característica do kardecismo. Contém elementos de várias correntes de pensamento e ideologias, do cristianismo ao budismo, passando pelo hinduísmo, teosofia, bramanismo e outras formas de esoterismo. A mistura resulta num fraco sistema doutrinário, que deseja fundamentar-se no evangelho mas prega reencarnação, aceita Jesus como iluminado mas não como salvador pessoal, observando apenas aspectos morais de seus ensinos, quando a moralidade é uma obrigação do homem e não um mérito.

 Para os kardecistas, Deus é um ser distante, não pessoal, inatingível. Suas petições são atendidas pelos espíritos evoluídos e, na impossibilidade de concederem a graça, são intermediários entre o suplicante e Deus. Esse distanciamento de Deus surge em função do carma colocado acima do próprio Deus. Quer dizer, se está determinado que o homem passe por determinada provação nem Deus poderá livrá-lo.No espiritismo o médium não recebe incorporação, como acontece em outras religiões como a Umbanda e Candomblé, o mesmo entra em contato com os espíritos evoluídos através da canalização, que se estabelece por meio da concentração profunda, exclusivamente por intermédio de pessoas dotadas das faculdades necessárias para a intermediação. Os kardecistas consideram a terra um planeta de expiação para a humanidade.

 Quando morrer outra vez, o indivíduo vai para um planeta ainda mais evoluído e assim sucessivamente, até atingir um estágio satisfatório de evolução para não precisar mais reencarnar-se na terra. Os espíritas creem que Deus é o criador de todas as coisas e depois vem o espírito, a matéria e o fluido, que é a parte da vida entre o espírito e a matéria. Como não acreditam na história de Adão, os adeptos de Kardec dizem que a vida começou através de organismos microscópicos, em vários lugares e épocas diferentes. O homem evoluiu a partir desse sistema rudimentar de vida, motivo pelo qual tem seu corpo finito, oriundo da terra, mas o espírito é imortal, surgido de outras dimensões cósmicas. O mundo dos espíritos, assim como o terreno, está povoado de seres imperfeitos, bons e puros, sendo que os maus são considerados apenas imperfeitos porque têm a chance de evoluírem. Os kardecistas não creem em milagres. O sobrenatural é o mesmo que o natural.

 A comunicação com o mortos é considerado um ato caritativo, já que o objetivo é atender a uma necessidade do espírito, que poderá ser o pagamento de uma dívida ou o cumprimento de uma vontade do falecido. No espiritismo também há comunicação com seres extraterrenos, estes são espíritos que nunca viveram na terra, pertencem a outra esfera e são conhecidos como mestres da sabedoria. Há também a pratica de Caridade Espiritual, que consiste na libertação de pessoas oprimidas por espíritos obsessores e ajuda a esses próprios espíritos. Eles ainda não atingiram a escala evolutiva e ficam no espaço terrestre, "encostados" nas pessoas susceptíveis para perturbar-lhes a vida. O Doutrinamento do espiritismo é um trabalho que pode ser feito pelos espíritos evoluídos de pessoas falecidas como por extraterrestres ou ainda através de estudiosos do assunto. A crença na reencarnação é uma das principais doutrinas do espiritismo e das religiões não cristãs.

 A ideia teve origem na antiguidade, ganhou corpo na Ásia e recebeu grande ênfase no Ocidente com a chamada "orientalização do Ocidente", por contada imigração de crenças hindus, japonesas e chinesas. É fundamental ao espírita respeitar a individualidade e iniciativa das pessoas desde a infância, pois acredita que tudo nesta vida é um aprendizado da alma e a intervenção pode impedir que o indivíduo passe por uma situação que iria ajudá-lo no aperfeiçoamento do espírito. Os seguidores de Kardec não creem na queda de Adão e Eva, na lei do pecado e na expiação eterna para os que morreram praticando maldade. Por este motivo, acham que Deus não tem necessidade de condenar os praticantes do mal nem recompensar os observadores do bem. Deus para os espíritas, está alheio aos acontecimentos terrenos. Ele colocou suas leis e não participa da vida do homem, não intervém nos acontecimentos cotidianos da humanidade.

 Cada qual sofre as consequências de seus atos e dará conta deles nos caminhos da eternidade, através de um incessante nascer-morrer-renascer. O trabalho é  caminho do progresso e os espíritas detestam a estagnação e o retrocesso material ou espiritual, na certeza de que a miséria é um sinal da herança cármica em pagamento de dívidas anteriores. Os seguidores do kardecismo consideram vulgar a crença das denominações cristãs. Seus ensinamentos são vistos como preconceituosos e devem ser mudados. Assim, a igreja é dispensável, como também a Ceia, o batismo e outras doutrinas cristãs. O evangelho é aceito apenas em parte, rejeitando importantes fundamentos como santificação, a igreja como corpo de Cristo, o corpo como templo do Espírito Santo e outros. Visto que os kardecistas não aceitam o pecado, a queda do homem e o sacrifício vicário de Jesus para reconciliar o homem com Deus, não creem também na necessidade de expiação.

 Não é caridade espontânea originada da alegria de servir, mas um caminho, uma chance para se receber em troca a recompensa vindoura na forma de méritos para a somatória essencial na escala evolutiva. A Bíblia não é tida como de inspiração divina nem como depositária das regras de fé e prática. Não é aceita integralmente e acatam o que lhes interessa de maneira distorcida, adaptada a seu modo particular de crer, segundo o pensamento e ideias de Kardec. A Bíblia não é vista como fonte de revelação de Deus para os homens, mas como um conjunto de livros filosóficos, tidos como narrativas exemplares, inspiradoras e de grande valor literário. Segundo creem, toda a falta e erros cometidos tornam-se causa, cujos efeitos ou consequências em futuras encarnações. Esta lei determina a intensidade do castigo, conforme a gravidade das faltas. É ela que explica o nascimento de pessoas com deformações físicas, limitadas de inteligência, ignorantes, miseráveis etc.

 Por exemplo: se alguém nasce sem o braço, possivelmente tenha decepado o braço de outra pessoa em encarnações anteriores. Os mesmo não creem no céu nem no inferno, o que existe são os mundos dos espíritos, que são como a Terra em versão melhorada. O céu segundo a própria opinião de Kardec no livro "O Céu e o Inferno": "o céu está em toda a parte e a doutrina da existência do céu é triste fria e glacial. É desesperadora a perspectiva dos eleitos voltados a contemplação perpétua, enquanto a maioria das criaturas padecem tormentos sem fim"(p.37). O kardecismo declara-se cristão e garante que segue o evangelho de Cristo, mas as opiniões entre seus expoentes são muito contrárias. Suas práticas, pensamento e doutrinas são também antagônicas com os ensinos de Cristo. Léon Denis, o maior doutrinador do kardecismo depois de Allan Kardec, escreveu no livro "Cristianismo e Espiritismo" que Cristo não é salvador, negando o fundamento do cristianismo.

 O texto diz: "a missão de Cristo não era resgatar com sangue os crimes da humanidade: o sangue, mesmo de um Deus, não seria capaz de resgatar ninguém, cada qual deve resgatar-se a si mesmo, resgatar-se da ignorância e do mal. Nada exterior a nós poderia fazê-lo. Além de contrariar pontos vitais do cristianismo, o kardecismo ainda autoproclama-se objeto do cumprimento da promessa de Jesus sobre o envio do Consolador. Declara que esse Consolador não é o Espírito Santo, mas o espiritismo, que surgiu para "consolar os aflitos". Essa declaração foi proferida pelos componentes do Conselho Nacional da Federação Espírita Brasileira, no início da década de cinquenta e diz, entre outras coisas, que "no Brasil, a doutrina espírita, sem prejuízo de seus aspectos científicos e filosóficos, é fundamentada no evangelho de Cristo, CERTO DE SER O CONSOLADOR PROMETIDO de que nos falam aqueles mesmos evangelhos".

 O Brasil é o único país no mundo onde Kardec é colocado em primeiro lugar depois de Deus. Os kardecistas só não acendem velas para o espírito de Kardec, mas deixam claro ser ele o objetivo maior quando escrevem num folheto o seguinte: "sentir Kardec, estudar Kardec, anotar Kardec, meditar Kardec, analisar Kardec, comentar Kardec, interpretar Kardec, cultivar Kardec, ensinar Kardec e divulgar Kardec" E Jesus, nada? Kardec morreu autoproclamando-se cristão. Seus escritos pretendem interpretar com mais profundidade o pensamento cristão e vestir sua prática com uma nova roupagem. Kardec escreveu um livro(O Evangelho Segundo o Espiritismo) cujo o lema principal é que "fora da caridade não há salvação". É um equívoco, já que o kardecismo pretende seguir o ensinamento cristão bibliocêntrico. Em nenhum lugar na Bíblia está escrito que a caridade tem poder salvífico nem que ela possa tornar o homem merecedor do favor divino.

 Enquanto o evangelho de Kardec proclama a salvação exclusivamente através das boas obras. Paulo diz aos cristãos de Éfeso que a salvação não vem pelos homens, mas pela fé em Jesus. Os seguidores de Kardec estão equivocados com a salvação pela caridade. Está escrito em Atos 4:12 - "em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos." Veja em que contradição os espíritas estão mergulhados, demonstrando total insensatez. Kardec é frontalmente contra a doutrina do pecado e do juízo, por causa da reencarnação. A Bíblia diz que o Consolador veio exatamente para "convencer o mundo" do pecado e do juízo. Se o espiritismo fosse o Consolador, como convenceria o mundo de coisas que não crê e não aceita? Ou Jesus enganou-se ao revelar a missão do Consolador? Este é um problema que os kardecistas devem resolver.

 "Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto tenho dito". Fica definitivamente descartada essa ideia de que o Consolador é o espiritismo. Primeiro porque a declaração "aquele Consolador, o Espírito Santo" é clara e inequívoca. Segundo porque uma religião pode ensinar, mas jamais poderá "fazer lembrar" algo que fora ensinado. A crença kardecista de que Deus não se relaciona com o homem, não é um Deus pessoal, misericordioso e presente no cotidiano de cada homem, contraria totalmente a revelação divina através da Bíblia. Ninguém pode pretender-se cristão sem ter Jesus como filho unigênito de Deus, o Senhor e salvador do homem, que morreu crucificado e ressuscitou no terceiro dia para que todo aquele que nele crê possa também ressuscitar no último dia.

 Não há como separar Jesus do seu sacrifício de sangue a favor dos homens, motivo pelo qual ele é muito mais do que um iluminado ou um espírito extremamente evoluído. O Perispírito é uma crença estabelecida pelo homem, sob alegação de que foi revelada pelos espíritos desencarnados e (ou) evoluídos, vindos de outras dimensões cósmicas. É totalmente desprovida de lógica e não encontra nenhum respaldo bíblico. Como consta em Lucas 16.26 que não é possível a comunicação dos mortos com os vivos. O apóstolo Paulo disse que nem mesmo um anjo (ser de outra dimensão) pode acrescentar, diminuir ou distorcer o evangelho de Cristo. Isso anula a pretensão kardecista de fazer valer suas ideias como ensinamentos bibliocêntricos. O verdadeiro cristão jamais deverá ter como crença algo que a Bíblia não ensine.

 A comunicação mediúnica com seres espirituais de outras galáxias não é uma prática para cristãos autênticos, já que a Bíblia proíbe a consulta aos mortos e espíritos de qualquer natureza. Em Deuteronômio 18:11 fica evidentemente expresso quanto a esta proibição, está escrito: "Nem encantador de encantamentos, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos". Esta passagem faz referência às abominações cometidas pelas nações. Concluindo, se consultar os mortos é abominação, todo aquele que o faz é abominável aos olhos de Deus. Está escrito no verso 8 no capítulo 21 de Apocalipse, que os abomináveis vão arder no lago de fogo. Não há menção bíblica sobre moradores de outros planetas, nem que fosse necessário, hoje, seres invisíveis ou não, virem à terra para instruir, ensinar, prever o futuro ou a qualquer outra missão.

 Pelo contrário, quando foi preciso, Deus mesmo instruiu seus profetas, juízes e escolhidos para que transmitissem suas mensagens ao povo. O "Doutrinamento" é a crença da possibilidade do homem ser doutrinado pelos espíritos evoluídos, que incorporam os médiuns para ensinar o bem à humanidade. Conforme já vimos, não há razão para essa crença, nem respaldo bíblico, nem possibilidade que isso aconteça. Os ensinos da Bíblia são suficientes para seus estudantes alcançarem maturidade espiritual e contêm toda instrução de que o homem necessita. Na segunda carta a Timóteo, o apóstolo Paulo ensina que "toda escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda boa obra"(2Tm. 3.16,17).

 Apesar das distorções de passagens bíblicas, a doutrina da reencarnação é rejeitada até mesmo por adeptos do espiritismo em alguns países do mundo, dada a sua falta de consistência. Ressurreição é o espírito voltar a animar o mesmo corpo, apenas uma vez. Reencarnação é o espíritio voltar a animar outro corpo, recém-nascido, e viver até morrer novamente, num círculo interminável de nasce-morre-renasce-morre.

 Estes são alguns versículos que os espíritas distorcem: Êxodo 20.5 - Não te curvarás a elas nem as servirão: porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filho até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem. Nada há neste versículo que possa insinuar a reencarnação. No versículo seguinte está escrito que Deus faz misericórdia em milhares aos que o amam e guardam seus mandamentos, estabelecendo a responsabilidade do homem para consigo, seus filhos e netos.

 Ora, se alguém sabe que as pessoas inocentes poderão sofrer a consequência de seus atos, simplesmente deixa de fazer o que intenciona, pois há grande probabilidade de estar vivo e ver o resultado daquilo que praticou. Atribuir esta passagem uma confirmação do processo reencarnatório, é ignorância dos fatos a que ela se refere. "Visitar a maldade dos pais nos filhos", jamais quis dizer que os filhos sejam espíritos de antepassados reencarnados, mas que em Israel, os homens tinham obrigação de observar a lei ou ele e seus filhos sofreriam as consequências de seus atos.

 João. 9.1-3 - E, passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram dizendo: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que manifestassem nele as obras de Deus. Ao mencionarem "seus pais" os apóstolos se referiam a passagem de Êxodo 20.5, pois como bons judeus, conheciam a Bíblia e o que ela dizia a respeito de pais pecadores. Nem de longe passava pela cabeça dos discípulos a ideia da reencarnação. Jesus esclareceu que não era por causa de pecados que aquele homem nascera cego, mas fora um plano divino para que todos pudessem ver a glória de Deus.

 João 3.5 - "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do espírito, não pode entrar no reino do céu". Este é um dos textos mais usados para provar a reencarnação. Esquecem-se os espíritas que reencarnar não significa nascer do espírito, como pretendem, mas sim renascer na carne, já que o espírito é o mesmo, mas o corpo ainda muda. Então, é o espírito que está renascendo na carne. "Nascer da água e do espírito" não significa, absolutamente, reencarnar.

 Mateus. 17.12 - "Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram -lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem".  O texto narra a transfiguração de Jesus. Os espíritas dizem que João Batista era a reencarnação de Elias porque, em Lucas 1.17, está escrito: "E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias". Ainda mais: Jesus disse "em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas"(Mt. 17.11). Neste capítulo, versículo 13, está escrito "então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista". Esta passagem faz referência de que João Batista viria no espírito e virtude de Elias, significando com o mesmo ministério e unção que Elias, passando pelas mesmas provações, denunciando o pecado dos poderosos e a vinda de um novo tempo.

 A palavra "ressurreição" aparece quarenta e seis vezes na Bíblia, sendo nove no Antigo Testamento e trinta e sete no Novo. Ressuscitar aparece doze vezes no Novo Testamento e duas no Antigo. Em nenhuma ocasião há quaisquer indícios de que as passagens queriam dizer reencarnação, que não aparece nenhuma vez. Quanto ao que os kardecistas creem sobre a caridade, a Bíblia nos mostra que nenhuma ato caritativo poderá imputar ao praticante méritos para salvação da alma, ou alcançar privilégios diante de Deus. No capítulo 13 da primeira carta aos Coríntios, Paulo revela toda amplidão da prática da caridade, que é um mover do amor arraigado no coração do cristão. É uma consequência e não a causa da conversão a Cristo.

 A crença na reencarnação não deixa margem para aceitação da realidade do céu e do inferno. Os kardecistas dizem que ambos são um estado da alma e que os céus são mundo-escolas, mais ou menos atrasados, para onde os espíritos se dirigem conforme seus graus de evolução. Ali aprendem mais e evoluem outro tanto para reencarnar novamente. A Bíblia diz que o céu e o inferno são uma realidade literal. O céu foi criado por Deus - Gn.1.1; Êx. 20.11 - é habitação de Deus - 1Rs 8.27; Sl. 2:4 - Jesus veio do céu - Jo 3.13-31; 1Co 15.47 - lá só podem entrar os bons - Mt. 25.34; 1Co. 6.9,10.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Antinomianismo - J. I. Packer ( Não somos livres para pecar)


Qual é a Idade do Mundo?


 Um dos mais antigos pomos da discórdia entre cientistas (leia-se: a cultura ocidental) e religiosos consiste na discussão sobre a idade do universo em que vivemos. Pedras, mares, florestas, continentes. Nem plásticas nem bisturis foram utilizados para maquiar os efeitos do tempo. Enquanto as rugas não aparecem no rosto desta biodiversidade surpreendente, sua idade permanece sendo fruto de muita especulação.
Onde as contas entram em conflito? 
 Imaginemos um encontro entre Michelangelo — um dos maiores artistas que o mundo já conheceu — e um bem sucedido empresário no campo da informática. Passado o choque da primeira impressão (Michelangelo espanta-se com um misterioso aparelhinho preto que não pára de tocar no bolso do empresário), começam a falar de negócios. Os tempos mudaram, mas as obras primas, diz Michelangelo, têm valor vitalício.
 E então, ambos observam uma bela gravura, na qual a clássica casinha de telhado vermelho é rodeada por vastos campos verdes, sob um céu límpido e um sol brilhante. Como estamos na era do "fast.....", discutem o tempo mínimo necessário para reproduzir a mesma imagem. "Um artista ligeiro, de boa mão, consegue fazê-lo em três horas" — diz Michelangelo. Nosso companheiro do século XXI discorda — é capaz de repetir a gravura em 10 segundos!
 E você, o que acha? 
 Bem, quando começamos a raciocinar, calculamos o tempo para fazer o esboço, misturar as tintas, preencher a pintura e ainda dar um toque final. Dez segundos parecem um prazo ridículo! Mas não é, pois trata-se do tempo da impressão a laser... Desenhar pode ser um trabalho um tanto demorado, mas imprimir ou carimbar são métodos instantâneos, suficientes para resultar numa imagem pronta. Ao tratar da idade do universo, naturalmente pensamos em termos de evolução.
 Partículas que se unem, formando uma substância que se agrupa, transformando-se em elementos naturais, e assim por diante... Mas o mundo foi criado de um momento para o outro. Bastou uma palavra de Deus para que surgisse uma montanha. Sem começo, meio e fim. Como uma impressora de alta resolução, as maravilhosas paisagens do universo surgiram num piscar de olhos. A antiga discórdia nunca existiu. Tanto religiosos quanto cientistas estão certos. 
 Como?
 Certa vez, dois homens visitaram um sacerdote com um dilema. Cada qual dizia que o outro lhe devia 100 rublos. O primeiro defendeu-se, e trouxe todas as provas para inocentar-se, e ainda lucrar com a história. Depois de refletir, o rabino expôs sua opinião: 
 "É, você está com a razão!". 
"Mas como?"- gritou o outro — "Eu lhe emprestei dinheiro, esperei tanto tempo pela devolução, e nunca recebi o empréstimo de volta, e.....". 
 Depois de ouvir uma série de desculpas, o sacerdote exclamou: 
"O senhor tem razão!". 
 Um dos presentes na discussão não conteve a curiosidade, e, perplexo, perguntou ao sacerdote:

 "Sr. sacerdote, como é possível? O senhor disse que os dois lados opostos estão corretos!". 
 O sacerdote pensou um pouco, e replicou:
 "Pois é, meu caro. Você também tem razão!".
 É claro que para o mundo formar-se por si mesmo, bilhões de anos seriam um prazo razoável. Se pensarmos nas densas florestas, enfeitadas por plantas de todo tipo e cor, na diversidade de animais, grandes e pequenos, com estampas que nenhum designer é capaz de inventar... O olho humano! De quanto tempo precisariam as milhares de partículas para se combinaram de maneira tão exata, capaz de captar a infinidade de cores e formas? Os religiosos concordam: se formado por um processo de evolução, o mundo teria bilhões de anos.
 Não há o que discutir, pois a Bíblia trata de um método totalmente diferente, instantâneo. Como Michelangelo e o empresário: fala-se de dois diferentes processos. O primeiro requer tempo e preparo. O segundo aparece de um momento para o outro. Adão, o primeiro homem, é transferido para um laboratório, imediatamente após sua criação. Todos os médicos concordam: tanto em sua aparência física, quanto na análise das células, este homem existe há pelo menos vinte anos. Mas na realidade, Adão surgiu há dez minutos! 
Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? 
(Dica: Nossas mentes funcionam no modo "evolução" — algo surge de outro algo. Tente convertê-la para o modo "criação".) 
 E então, já matou a charada?

Mozart e o Epitáfio de Abel - Josemar Bessa


Frase - A. W. Tozer (1897-1963)