quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Jonathan Edwards e a Humilhação Cristã - Luiz Roberto de Mattos


 "As afeições santas são acompanhadas da humilhação evangélica", diz Edwards, ou pelo senso de plena insuficiência. Mas, de acordo com ele, deve ser feita uma distinção entre humilhação evangélica e legal. Esta última é peculiar aos homens que não possuem afeições graciosas, cujas mentes somente são levadas a um senso maior das coisas da religião. Por outro lado, a primeira é experimentada pelos verdadeiros santos que têm uma revelação da beleza transcendente das coisas divinas, sob a influência do Espírito Santo. Edwards expressa essa diferença nas seguintes palavras:
Na humilhação legal as pessoas são levadas a se desesperarem de ajudar a si mesmas; na evangélica, elas são levadas a voluntariamente negarem e renunciarem a si mesmas; na primeira elas são subjugadas e forçadas até o chão; na segunda, elas são levadas suavemente a render-se e a livremente e com prazer se prostrarem aos pés de Deus.
 Em outras palavras, alguém pode humilhar-se legalmente sem ter humildade. Por exemplo, no dia do juízo os ímpios serão convencidos de sua própria injustiça e pecaminosidade. Como Paulo escreve, "para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra" (Fp 2.10). Mas isso não significa que os incrédulos farão isso com qualquer mortificação do orgulho de seus corações.

 Eles terão somente uma humilhação legal, a saber, o reconhecimento do senhorio inquestionável de Cristo. A essência da humilhação evangélica, porém, é muito diferente. Ela consiste, diz Edwards, "em uma baixa estima do homem por si mesmo, como não sendo nada em si mesmo, inteiramente desprezível e odioso, acompanhada de uma mortificação da disposição de exaltar-se e de uma livre renúncia da própria glória".

 É a disposição de alma demonstrada por Davi, que diz: "Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus" (SI 51.17)Essa humilhação está intimamente ligada ao dever cristão de auto-negação. Esse dever envolve dois aspectos. Primeiro, a negação, pelo homem, de suas inclinações mundanas, abandonando assim os seus objetivos e prazeres mundanos.

 Em segundo lugar, ela envolve a negação da auto-exaltação natural e a renúncia da própria dignidade e glória. Esta última parte, diz Edwards, é a "parte mais difícil da autonegação...", "os homens naturais podem chegar muito mais próximo da primeira do que da segunda". A fim de se entender a essência da humilhação evangélica, é útil considerar o seu oposto, a saber, o orgulho espiritual. Este pode manifestar-se na forma de uma humildade fingida.

 Uma pessoa pode usar termos humildes ao compartilhar as suas próprias experiências, acentuando as grandes coisas que Deus tem feito por ela, mas a sua motivação interior pode consistir em mostrar quão especial ela é. Tal pessoa, tão ciosa de suas próprias experiências, que vive arrogando algo para si mesma, está "no caminho para o inferno", Edwards afirma de modo severo.

 Paradoxalmente, uma característica comum do orgulho espiritual é que ele torna o homem presunçoso de sua própria humildade. Edwards aponta duas grandes características do orgulho espiritual. Primeiro, a inclinação das pessoas para pensar nas suas realizações religiosas, comparando-se com os outros. Foi esse o procedimento condenado no fariseu, registrado em Lucas 18.11: "Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano".

 Aqueles que estão sob o poder da verdadeira humildade cristã manifestam uma disposição contrária. Eles estão inclinados a pensar em suas realizações religiosas como comparativamente pobres e a considerar-se inferiores entre os santos. Eles reconhecem que ainda há muito o que crescer na graça e no amor de Deus e que infelizmente ainda resta muita corrupção em seus corações. Portanto, a pessoa que acha que é um santo importante, em comparação com os outros, deve tomar cuidado.

 Como Edwards observa, tal pessoa "certamente está errada; ela não é um santo eminente, mas está sob o grande domínio de um espírito orgulhoso e farisaico". Uma admoestação final relacionada com essa primeira característica do orgulho espiritual é particularmente útil ao se considerarem as experiências espirituais tão comuns no contexto brasileiro contemporâneo. Edwards afirma:
O tipo de experiências que parece ter essa tendência, e que de tempos em tempos se verifica ter tal efeito, de encher o objeto das mesmas com grande presunção acerca dessas experiências, certamente é vão e enganoso... As supostas descobertas que naturalmente inflam a pessoa de admiração com a grandeza das mesmas, e a enchem da presunção de que agora viu e conhece mais do que outros cristãos, não têm em si nada da natureza da verdadeira luz espiritual.
 Uma segunda característica do orgulho espiritual, mencionada por Edwards como um sinal infalível, é "as pessoas estarem inclinadas a terem em alta consideração a sua humildade". O santo verdadeiro considerará todas as suas graças e experiências relativamente pequenas, mas especialmente a sua humildade. O cristão humilde será mais propenso a condenar o seu próprio orgulho do que o de outros homens. Ele será levado a reconhecer que ninguém é tão orgulhoso quanto ele mesmo. A humildade será encontrada na vida daqueles que tiveram uma experiência real e salvadora com o Senhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário