"As afeições santas são acompanhadas da humilhação evangélica", diz Edwards, ou pelo senso de plena insuficiência. Mas, de acordo com ele, deve ser feita uma distinção entre humilhação evangélica e legal. Esta última é peculiar aos homens que não possuem afeições graciosas, cujas mentes somente são levadas a um senso maior das coisas da religião. Por outro lado, a primeira é experimentada pelos verdadeiros santos que têm uma revelação da beleza transcendente das coisas divinas, sob a influência do Espírito Santo. Edwards expressa essa diferença nas seguintes palavras:
Na humilhação legal as pessoas são levadas a se desesperarem de ajudar a si mesmas; na evangélica, elas são levadas a voluntariamente negarem e renunciarem a si mesmas; na primeira elas são subjugadas e forçadas até o chão; na segunda, elas são levadas suavemente a render-se e a livremente e com prazer se prostrarem aos pés de Deus.
Em outras palavras, alguém pode humilhar-se legalmente sem ter humildade. Por exemplo, no dia do juízo os ímpios serão convencidos de sua própria injustiça e pecaminosidade. Como Paulo escreve, "para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra" (Fp 2.10). Mas isso não significa que os incrédulos farão isso com qualquer mortificação do orgulho de seus corações.
Eles terão somente uma humilhação legal, a saber, o reconhecimento do senhorio inquestionável de Cristo. A essência da humilhação evangélica, porém, é muito diferente. Ela consiste, diz Edwards, "em uma baixa estima do homem por si mesmo, como não sendo nada em si mesmo, inteiramente desprezível e odioso, acompanhada de uma mortificação da disposição de exaltar-se e de uma livre renúncia da própria glória".
É a disposição de alma demonstrada por Davi, que diz: "Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus" (SI 51.17). Essa humilhação está intimamente ligada ao dever cristão de auto-negação. Esse dever envolve dois aspectos. Primeiro, a negação, pelo homem, de suas inclinações mundanas, abandonando assim os seus objetivos e prazeres mundanos.
Em segundo lugar, ela envolve a negação da auto-exaltação natural e a renúncia da própria dignidade e glória. Esta última parte, diz Edwards, é a "parte mais difícil da autonegação...", "os homens naturais podem chegar muito mais próximo da primeira do que da segunda". A fim de se entender a essência da humilhação evangélica, é útil considerar o seu oposto, a saber, o orgulho espiritual. Este pode manifestar-se na forma de uma humildade fingida.
Uma pessoa pode usar termos humildes ao compartilhar as suas próprias experiências, acentuando as grandes coisas que Deus tem feito por ela, mas a sua motivação interior pode consistir em mostrar quão especial ela é. Tal pessoa, tão ciosa de suas próprias experiências, que vive arrogando algo para si mesma, está "no caminho para o inferno", Edwards afirma de modo severo.
Paradoxalmente, uma característica comum do orgulho espiritual é que ele torna o homem presunçoso de sua própria humildade. Edwards aponta duas grandes características do orgulho espiritual. Primeiro, a inclinação das pessoas para pensar nas suas realizações religiosas, comparando-se com os outros. Foi esse o procedimento condenado no fariseu, registrado em Lucas 18.11: "Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano".
Aqueles que estão sob o poder da verdadeira humildade cristã manifestam uma disposição contrária. Eles estão inclinados a pensar em suas realizações religiosas como comparativamente pobres e a considerar-se inferiores entre os santos. Eles reconhecem que ainda há muito o que crescer na graça e no amor de Deus e que infelizmente ainda resta muita corrupção em seus corações. Portanto, a pessoa que acha que é um santo importante, em comparação com os outros, deve tomar cuidado.
Como Edwards observa, tal pessoa "certamente está errada; ela não é um santo eminente, mas está sob o grande domínio de um espírito orgulhoso e farisaico". Uma admoestação final relacionada com essa primeira característica do orgulho espiritual é particularmente útil ao se considerarem as experiências espirituais tão comuns no contexto brasileiro contemporâneo. Edwards afirma:
O tipo de experiências que parece ter essa tendência, e que de tempos em tempos se verifica ter tal efeito, de encher o objeto das mesmas com grande presunção acerca dessas experiências, certamente é vão e enganoso... As supostas descobertas que naturalmente inflam a pessoa de admiração com a grandeza das mesmas, e a enchem da presunção de que agora viu e conhece mais do que outros cristãos, não têm em si nada da natureza da verdadeira luz espiritual.
Uma segunda característica do orgulho espiritual, mencionada por Edwards como um sinal infalível, é "as pessoas estarem inclinadas a terem em alta consideração a sua humildade". O santo verdadeiro considerará todas as suas graças e experiências relativamente pequenas, mas especialmente a sua humildade. O cristão humilde será mais propenso a condenar o seu próprio orgulho do que o de outros homens. Ele será levado a reconhecer que ninguém é tão orgulhoso quanto ele mesmo. A humildade será encontrada na vida daqueles que tiveram uma experiência real e salvadora com o Senhor.
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